Caminhada Nocturna
No dia 9 de Agosto, contrabandistas de 3 povos da Raia, Casilhas de Flores, Forcalhos e Lageosa da Raia marcaram encontro num ponto secreto junto à linha da fronteira ( na Genestosa) por volta das 11 horas da noite.
Saída dos Forcalhos
Mais de 70 forcalhenses aceitaram o desafio saindo dos Forcalhos às 21.30h em ponto. Desta vez, ninguém transportava “carrego” ( nem "talegos"… apenas histórias, recordações daqueles tempos, sonhos e uma boa carga de adrenalina que a aventura nocturna iria proporcionar.
Caminho do Fornito
O céu estrelado e um belo luar não eram propriamente ideais para o Contrabando ( sendo a claridade inimiga para quem pretendesse passar despercebido).
Pelo caminho, ouviam-se histórias daqueles tempos narradas pelos mais velhos - os aventureiros noctívagos tinham idades compreendidas entre os 5 e os 78 anos- aos mais novos cujos olhos absorviam e filtravam o escuro da noite para ver melhor…não fosse aparecer de repente um carabineiro, um lobo ou até mesmo um touro bravo…
Ao chegar à raia, percorridos 4 quilómetros, encontramo-nos com os espanhóis das Casilhas aos quais as gentes da Lageosa se juntaram mais tarde. Era indescritível o momento que juntou mais de 200 pessoas, num lugar ermo desprovido de qualquer estrutura eléctrica…3 povos encontravam-se numa alegria difícil de explicar. A mercadoria tinha sido entregue: boa disposição, alegria e paz…muita paz!
...e não é que apareceram mesmo os carabineiros!
Carabineiros que surpreenderam os contrabandistas em flagrante
A ideia era reunirem-se todos numa quinta isolada da Raia- a Quinta do Legário- que cedeu as instalações para receber os contrabandistas. No local iluminado por holofotes, fez-se uma roda à volta de quem quisesse contar histórias/pequenos episódios dos tempos do contrabando. Sem o auxílio de microfones e altifalantes, o silêncio era mais do que ouro para poder ouvir as histórias proferidas entusiasticamente pelos contadores ( 1 de cada aldeia).
Estórias eram muitas... desde a forma como as mulheres escondiam a mercadoria; o cavalo de um contrabandista que tinha levado 7 tiros dos carabineiros; famílias que escondiam os contrabandistas de maneira a não serem apanhados; o cão de uma quinta que só ladrava quando sentia a presença dos carabineiros...
Elementos da organização do evento ( Ayuntamiento das Casilhas, Junta de Freguesia da Lageosa e Associação dos Forcalhos) falaram sobre a importância do contrabando para a economia das famílias carenciadas naqueles tempos difíceis e para a união dos povos comprometidos numa actividade considerada ilegal e de alto risco.
O sucesso desta iniciativa singela que envolveu as 3 aldeias poderá ser eventualmente a luz do fundo do túnel da interioridade que poderá unir esses povos e caminharem unidos em direcção a outros projectos mais ambiciosos...
Todos atentos para ouvir os contadores de histórias de Contrabando...
Neste convívio muitos reencontraram amigos e familiares que não viam há anos e por coincidências do destino, esta noite de contrabando voltou a juntá-los.
Antes da partida do regresso, a merenda que veio mesmo a calhar!
No final da sessão, todos se despediram calorosamente e regressaram para as respectivas aldeias na esperança de que para o ano haja novamente noite de contrabando.
fdmc/08/2008
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